A história de amor catarinense que fez de Lages a capital do turismo rural
Entre tradições, hospitalidade e visão empreendedora, Tânia Ávila e Laélio Bianchini transformaram a Fazenda do Barreiro em referência nacional
No dia 15 de agosto, data dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, padroeira da cidade de Lages, a Serra Catarinense relembra uma história que une fé, tradição e amor. É a trajetória de Tânia Ávila e Laélio Bianchini, casal que não apenas construiu uma vida juntos, mas também ajudou a fundar o turismo rural no Brasil, tornando Lages a capital dessa modalidade que hoje se espalha por todo o país.
O palco desse romance é a bicentenária Fazenda do Barreiro, fundada em 1763 pelo português José Joaquim Pereira e hoje administrada pela oitava geração da família. Entre araucárias centenárias, geadas que embranquecem os campos e riachos cristalinos, a propriedade guarda memórias que vão além da paisagem. Dois museus preservam centenas de objetos históricos, casas de pedra de taipas e até uma camélia no jardim, símbolo do movimento abolicionista.
Do almoço típico à hospedagem

Em 1985, a Fazenda do Barreiro começou a servir almoços típicos serranos. No ano seguinte, passou a hospedar visitantes, tornando-se, ao lado do Hotel Fazenda Pedras Brancas, pioneira do turismo rural brasileiro. O movimento nasceu de uma necessidade: manter os turistas mais tempo na região. Grupos vindos de São Paulo rumo a Gramado paravam em Lages para almoçar e assistir a apresentações culturais, mas não encontravam onde ficar. A solução abriu caminho para um novo modelo de negócios no campo.
Amor, tradição e hospitalidade

Casados há 60 anos, Tânia e Laélio dividem não apenas a rotina, mas uma missão. Laélio deixou a carreira de contador para se dedicar ao campo, enquanto Tânia, professora e herdeira das terras, assumiu a cozinha, o atendimento e a gestão da fazenda. O casal coleciona histórias marcantes: do primeiro beijo em um balanço branco ao reencontro após uma breve separação, quando Tânia chegou a se hospedar na própria pousada da fazenda.
Na intimidade, mantêm tradições simples e afetivas: café na cama todos os dias, conversas à beira da lareira e olhares que dispensam palavras. Essa mesma hospitalidade se estende aos hóspedes, recebidos como parte da família.
A Fazenda do Barreiro já recebeu turistas da América do Sul e de países como Suíça, Alemanha, Inglaterra, França e Bélgica. Muitos retornam há mais de 20 anos, atraídos pela combinação de natureza, cultura e acolhimento. Cavalgadas pela Coxilha Rica, gastronomia típica, apresentações culturais e até um plátano de 124 anos estão entre as experiências oferecidas.
O modelo desenvolvido em Lages inspirou propriedades rurais em diversas regiões do Brasil, como no Vale do Itapocu, no Norte catarinense, onde o turismo rural cresce valorizando a história e criando novas oportunidades econômicas.
A história de Tânia e Laélio mostra que amor, visão e respeito às tradições podem transformar uma região. O turismo rural, além de gerar renda, preserva memórias, fortalece comunidades e cria novas formas de receber quem chega de fora. É um legado que ultrapassa fronteiras e mantém viva a essência da Serra Catarinense.