Os Guardiões do Legado Cultural do Teatro Marajoara

Para muitos, o Teatro Marajoara é apenas um espaço histórico no centro de Lages. Para Gil Souza, é a materialização de um sonho ousado do pai, Mário Augusto de Sousa, um imigrante português que deixou um legado cultural incomparável à cidade. “Ele era um verdadeiro artista”, conta Gil, com brilho nos olhos ao relembrar a trajetória do pai.

Nascido em Vila Real, Portugal, em 1894, Mário chegou ao Brasil aos 18 anos e percorreu diferentes estados até se estabelecer em Lages. Foi aqui que seu talento floresceu. Professor de música, empresário e visionário, ele foi o responsável por importantes empreendimentos culturais como o Teatro Municipal, o Cine Teatro Carlos Gomes e, mais tarde, o icônico Teatro Marajoara, inaugurado em 18 de novembro de 1947.

“Eu tinha cinco anos quando vi aquele teatro ganhar vida. Meu pai projetou tudo com um olhar à frente de seu tempo. Era mais que um prédio, era uma afirmação de que Lages merecia estar no roteiro nacional das artes”, destaca Gil. A construção do Marajoara foi inspirada por uma peça de cerâmica da Ilha de Marajó, trazida por um engenheiro amigo da família. A máscara, símbolo do teatro, chama atenção até hoje. “De onde você olha, ela parece estar te observando. É um detalhe que torna o Marajoara ainda mais fascinante”, explica Gil, revelando uma das muitas curiosidades do espaço.

Mário Augusto de Sousa não apenas investiu em infraestrutura, mas também atraiu nomes consagrados ao palco lageano, como Bibi Ferreira, Procópio Ferreira e Iracema de Alencar. O reconhecimento veio em 1965, quando foi homenageado como cidadão lageano pela Câmara Municipal.

Hoje, quase 80 anos após a inauguração do Teatro Marajoara, Gil mantém viva a memória do pai. “Ele nunca quis fama. Queria dividir com o povo aquilo que recebeu de Deus: talento, fé e vontade de fazer a diferença. E conseguiu”.

Texto: Yago Roppa / Foto: Acervo da Família Mário Augusto de Souza